Opinião: O Filho do Outro, de Lorraine Levy (2012)

para Caio Mendes

Sempre que eu saio do cinema, eu fico pensando se eu gostei do filme ou não. É uma coisa muito pessoal, não sei se tem mais gente que passa por isso, mas eu não consigo ter uma opinião definitiva sobre algo que eu vi assim, imediatamente. Quando saí da sessão de “O Filho do Outro“, o Caio – meu amigo – me perguntou o que eu havia achado. E logicamente me enrolei todo para explicar, fazendo um papel de bobo tentando balbuciar alguma coisa sem parecer extremamente burro diante de alguém que sempre considerei mais inteligente que eu. No fim, disse muito mas não disse nada. Não é que eu não tenha entendido o que eu havia acabado de ver; é que eu preciso “digerir” o filme. Quando já estava no caminho de casa é que eu parei para pensar e chegar a alguma conclusão. E cheguei.

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O tema de troca de bebês já é batido e foi explorado em filmes, novelas, livros, minisséries, e quase todo outro meio audiovisual possível. Pelo menos uma vez por ano o assunto surge na mídia, em fatos reais, em algum programa do estilo Sônia Abrão. O diferencial neste filme dirigido e roteirizado por Lorraine Levy é que não se trata apenas disso – mas sim também uma análise do ressentimento entre palestinos e judeus em seu longo conflito. Sendo um bebê judeu e outro palestino trocados na maternidade, quando eles estão perto de completarem dezoito anos acabam descobrindo suas verdadeiras origens. Portanto, já é outro ponto que a produção também enfoca: a verdadeira identidade, lugar ao qual se pertence de verdade, e a luta em reconhecer as origens. Tudo isso conta como ponto positivo, já que é mostrado de maneira eficiente e bem honesta, sem grandes firulas. Perde-se pouco tempo com dramas desnecessários, indo quase direto ao ponto central da narrativa logo no começo do filme.

Mas há alguns problemas. Algumas atuações destoam do elenco que, numa visão geral, é ótimo: os pontos negativos estão em Mahmoud Shalabi, que interpreta o irmão de Yacine (papel de Mehdi Dehbi, carismático e excelente): parece deslocado, em outro tom, sem grandes sutilezas; ou está irado ou está felicíssimo. Algumas de suas cenas também parecem fora de contexto, em especial uma em que, junto com amigos, ele se recusa a comprar bebidas de um outro rapaz. O desenvolvimento da trama a partir do terceiro ato, quando começa a ficar realmente interessante, acaba por terminar de forma artificial, sem nenhuma explicação. Se a intenção da diretora era deixar a história aberta para causar reflexão nos espectadores, falhou. Em compensação, além do já citado Dehbi, Jules Sitruk, como o rapaz criado do lado israelense e que tem os maiores problemas com a questão de identidade, por ser apegado ao judaísmo, e seus pais, interpretados por Pascal Elbé e Emmanuelle Devos, estão em excelente forma, mas na minha opinião, os melhores são Areen Omari e Bruno Podalydès, os pais palestinos, tem as melhores atuações do filme, transbordando sentimentos usando apenas o olhar, em especial em uma cena-chave na mesa de jantar. Com esse conjunto, “O Filho do Outro” poderia ter sido um filme de nota máxima, e só não o é por conta de algumas escolhas equivocadas de sua diretora e roteirista. Serve como uma boa explicação sobre o conflito árabe-israelense e como um bom drama. Nada mais que isso. (E espero que, agora, eu tenha me tornado mais claro na explicação – e quando me perguntarem o que achei do filme na saída do cinema novamente, vou escolher ficar calado e só abrir a boca quando tiver algo realmente decente para dizer).

Recomendo ver o filme nas salas de cinema, mas aos que preferem baixá-lo, o link para download é este: http://goo.gl/J72Q3 (sem legendas)

O blog não hospeda torrents de filmes, apenas redireciona para sites onde eles podem ser encontrados aos que tiverem esse desejo.